Reincidir nunca mais: “Quando a pessoa sai da cadeia, ela sai sem rumo ou direção, sem saber onde começar. A Fundação foi o meu ponto de recomeço” Irapuan Oliveira


Quartou. São 6:30h da manhã e Irapuan Oliveira, 31 anos,  já está saindo de casa, em Benfica, Manguinhos, a fim de pegar o transporte público para mais um dia de trabalho. Destino? Centro de Qualificação Profissional da Fundação Santa Cabrini, no Rio Comprido. “O mais comovente é ver o sorriso no rosto dos meus pais, ao me ver saindo de casa, todos os dias pela manhã, para trabalhar de forma digna longe do crime.” conta Irapuan, que desde o dia primeiro deste mês, trabalha como prestador de serviços pela FSC.

Uma juventude perdida entre as grades do crime

Sentenciado a cumprir quase 6 anos de pena por assalto à mão armada em 2016, Irapuan Oliveira revela que foi aos 13 anos, após o acidente sofrido pelo seu pai, que ele teve o seu primeiro contato com o crime: “Depois que o meu pai ficou debilitado com o acidente, sem poder andar,alguém precisava trazer o sustento e pagar o aluguel. Vi na boca de fumo a solução mais rápida. Meu irmão mais velho já estava envolvido no tráfico de drogas na comunidade, então segui o exemplo e entrei também.” relata

O fundo do poço

“Aos 13 anos, eu já usava maconha e lolo com frequência, mas foi aos 18, quando conheci a cocaína, que cheguei no meu fundo do poço. Aos poucos, vi todo dinheiro que eu conseguia na boca ir embora para sustentar o meu vício. Não conseguia ficar um dia sequer sem usar. Meu único momento de paz era quando estava drogado”

Sem mais condições para sustentar a dependência química, Irapuan relata que foi aos 25 anos que tomou a decisão de começar a roubar: “Os vícios roubam a nossa identidade, nossos princípios. Eu não tinha mais senso nenhum. Então decidi que iria roubar, e no primeiro meu assalto à mão armada na Cinelândia, no dia 29 de março de 2015, fui preso em flagrante.”

A reincidência

Depois de um ano em regime fechado nas unidades penitenciárias de Vicente Piragibe, Água Santa, Bangu 6 e Paulo Roberto Rocha, veio a recaída no crime: “Passei a responder em semiaberto em 2016, eu saía da cadeia às 7h e retornava às 22h. Infelizmente, eu ainda não tinha decidido a mudar. Estava nos vícios e por não encontrar nenhuma porta de emprego, até que chegou um dia em 2017, que evadi, não voltei mais pra prisão no horário e retornei pra boca de fumo.” 

Assim como Irapuan Oliveira, milhares de pessoas em cumprimento de pena passam pelo mesmo dilema: não conseguem reconstruir suas vidas de forma digna, devido a falta de oportunidades, e retornam à vida ilícita. Se o objetivo real da pena é reintegrar o indivíduo infrator ao convívio social, faz-se necessário levantar a questão: “O que é preciso para ressocializar?” Desde 1977, “empregabilidade” e “qualificação profissional” são as respostas que a Fundação Santa Cabrini defende na sociedade para essa questão.

“A sensação que dá no preso que sai do cárcere e não encontra uma oportunidade de emprego, é que o crime é a única saída. Não dá pra apagar o meu passado e nem tirar da minha ficha o que eu fiz, então como vou conseguir um emprego?  Eu não acreditava que poderia ter mais uma vida normal. Pra mim, o tráfico era a única alternativa” explica Irapuan.

Encontro com a Fundação

Preso novamente em 2020, Irapuan passou a questionar a vida na criminalidade: “Em 2019, eu perdi o meu irmão mais velho no tráfico de drogas. Eu trabalhava na mesma boca de fumo que ele desde os meus 13 anos. Perdê-lo tirou o meu chão e me fez repensar muito no que eu estava fazendo da minha vida. Que futuro eu iria ter vivendo foragido na boca de fumo? Mas eu não tinha coragem de me entregar. Quando me prenderam na porta de casa, em 2020, foi tudo muito constrangedor, mas também era um peso que eu tirava dos meus ombros. Eu já sabia que aquilo era inevitável. Mas dessa vez, retornei ao sistema decidido a não sair de lá como o mesmo homem.”

Em regime semiaberto desde dezembro de 2021, Irapuan encontrou na Fundação Santa Cabrini o quê não havia encontrado na primeira vez em que deixou o presídio: “Fiquei sabendo da Fundação através de um amigo que trabalha lá na Biblioteca Parque Estadual  de Manguinhos. Contei para ele que eu não sabia o que faria da minha vida, mas que nunca mais voltaria ao crime. Então ele me falou que a FSC poderia me ajudar a recomeçar. E assim aconteceu.” conta

Irapuan foi atendido pelas assistentes e psicólogas da Fundação, participou das oficinas de qualificação profissional, e recebeu o seu ofício de emprego no início deste mês (1). “Só tenho a agradecer a Deus, primeiramente, e à Fundação Santa Cabrini, por essa chance de ganhar o meu sustento do jeito certo e com dignidade. Quando a pessoa sai da cadeia, ela sai sem rumo ou direção, sem saber onde começar. A Fundação foi o meu ponto de recomeço. Sou, hoje, um novo homem, longe da vida errada e dos vícios.”

Você está cumprindo pena em regime semiaberto? Está determinado a deixar o passado ilícito para trás a viver uma nova vida com dignidade, trabalho e qualificação? Faça com o Irapuan Oliveira! Visite a sede da Fundação Santa Cabrini, no Largo do Machado 48 Catete, e tenha acesso ao serviços do Estado do Rio de Janeiro voltados exclusivamente para sua ressocialização! Os atendimentos ao público são realizados de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, no Largo do Machado 48 Catete, Zona Sul do Rio.