“O crime roubou a minha história, mas, hoje, através da Fundação Santa Cabrini, eu estou reescrevendo ela” Solimar Santos


É quinta-feira, 12 de maio. São 8:40 de uma manhã ensolarada na zona sul do Rio. Solimar dos Santos, 46 anos, mais conhecida como “Tia Sol”, desce na estação de metrô na Praça do Largo do Machado e caminha entre os comerciantes em direção à Igreja Matriz da Glória, o ponto de referência para o seu lugar de destino. Ao chegar na escadaria da Igreja neoclássica, olha para o seu lado direito e logo reconhece, com base nas fotos que havia visto nas redes sociais, o local que procurava: a Fundação Santa Cabrini.

Um filme passa em sua cabeça. Enquanto desce as escadas da Igreja e caminha em direção ao edifício branco localizado no Largo do Machado 48, Solimar recorda da primeira vez que ouviu falar da FSC: “Eu ainda estava lá dentro no sistema prisional. E me perguntava direto: quando eu sair daqui, pra onde vou? Como vou recomeçar? O que vai ser da minha vida? Estava totalmente perdida. Até que uma amiga me explicou que eu deveria procurar a Fundação assim que começasse a responder em semiaberto, pois lá encontraria acolhimento e trabalho, só que achei muito mais que isso, encontrei o recomeço da minha vida”, relatou a Tia Sol.

Assim que chegou na Fundação, Solimar foi recepcionada pelo serviço social e, depois, encaminhada ao auditório no terceiro andar da instituição, para participar de uma oficina de qualificação profissional:
“Eu vim na FSC pela primeira vez semana passada, quando fui cadastrada e atendida pelas assistentes sociais. Aí ontem, recebi uma ligação e me chamaram para assistir a essa ambientação profissional para assim receber uma oportunidade de emprego. Em todo o processo, fiquei encantada com a atenção que me deram. Somos tratados como gente de verdade. Só quem passou pelo sistema prisional sabe o quanto é difícil encontrar algum lugar que nos acolhe, como a Fundação”, relembrou.

Solimar dos Santos tem duas filhas e cumpre pena desde 2019. Atualmente está em regime de Prisão Albergue Domiciliar (PAD). Segundo ela, foi a perda do filho, Ivan, em 2010, o gatilho para a sua mudança drástica de vida: “Perder meu filho me abalou muito emocionalmente. Para tentar escapar da dor, passei a beber, e pouco tempo depois já estava mergulhada no alcoolismo. Dois anos depois, já estava nas ruas usando drogas”, contou.


Família, emprego, reputação, aos poucos, Solimar relatou que foi perdendo tudo por causa da dependência química. Sem recursos para manter o seu vício, Sol disse que enxergou no crime sua única saída.
“Passei a ficar mais nas ruas, sem dinheiro e disposição para trabalhar, e vi no furto o meio mais rápido para sustentar os meus vícios. Comecei com um produto e outro num mercadinho. Eu furtava para vender e depois comprar drogas.”

Solimar viveu nessa vida por seis anos, até que foi presa: “Na minha prisão, em 2019, eu tinha certeza de que a minha vida tinha acabado ali. Como eu iria olhar nos olhos das minhas filhas de novo? Como eu seria um exemplo para elas e para as minhas netas? Por isso, costumo dizer que o crime roubou a minha história, mas, hoje, através da Fundação Santa Cabrini, estou reescrevendo ela”, relatou. Assim que começou a responder em semiaberto, Tia Sol seguiu o conselho que ouviu lá dentro do sistema e procurou a Fundação em busca de uma chance de recomeço.

Juntamente com ela, mais de dez pessoas em cumprimento de pena participaram do treinamento de qualificação profissional. Após a oficina, Solimar aguardou na recepção por sua carta de emprego, que a levaria, no dia seguinte, de manhã, até o seu novo local de trabalho. Ao receber o ofício em suas mãos do setor de empregos, Sol não conteve as lágrimas e desabafou: “É a primeira que consigo um trabalho digno depois de muito tempo. Cheguei a pensar que nunca teria essa chance de recomeçar e viver algo diferente. Hoje, eu abraço essa oportunidade que a Fundação Santa Cabrini me deu com unhas e dentes. Irei reescrever a minha história e ser um exemplo melhor para minhas filhas e netas”, concluiu.

Assim como a Solimar dos Santos, a FSC atende diariamente pessoas apenadas que também chegaram a pensar que não haveria possibilidade para o recomeço. Desde 1977, a instituição acredita que, por meio da qualificação e do trabalho, é possível reintegrar o indivíduo ao convívio social com dignidade e excelência. Nesse sentido, de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h, a Fundação Santa Cabrini proporciona atendimento psicossocial, treinamento profissional e oportunidades de trabalho a todos que buscam o recomeço no estado do Rio de Janeiro.