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Setembro Amarelo: Suicídio é quatro vezes maior entre pessoas em cumprimento de pena no Brasil, aponta levantamento

Postado por admin em 02/set/2022 - Sem Comentários

O suicídio é uma realidade muito mais comum dentro dos presídios do que fora. É o que mostra um levantamento da Revista Piauí1, com base nos últimos dados divulgados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública2, numa pesquisa divulgada entre 2016 a 2019.

Neste mesmo período, as unidades carcerárias registraram 25,2 suicídios a cada 100 mil presos, quatro vezes a mais que a taxa da população brasileira em geral (6 suicídios por 100 mil habitantes). Além disso, a taxa de suicídios no sistema penitenciário se agravou de 15,7 para 25,2 mortes a cada 100 mil cidadãos em cumprimento de pena.

A Fundação Santa Cabrini abraça a Campanha do Setembro Amarelo3 , campanha mundial de conscientização e prevenção ao suicídio, a fim de promover o bem-estar psíquico e emocional da população em cumprimento de pena no Estado do Rio de Janeiro. A saúde mental de cidadãos privados de liberdade também importa.

Em paralelo ao alto índice nas unidades prisionais, o dilema do autoextermínio assusta cada vez mais gestores públicos em todo o mundo. De acordo com os dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)4 e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos um suicídio ocorre no planeta, resultando em mais de 800 mil vidas perdidas anualmente em todo o mundo.

A falta de transparência e diálogo sobre saúde mental na sociedade é apontada por especialistas como sendo o principal responsável. É o que explica a psicóloga da Fundação Santa Cabrini, Dione Paiva. “Falar é a melhor solução. Buscar ajuda profissional para problemas ligados à saúde mental não é vergonha nem frescura nenhuma. Todo mundo desabafa com o amigo ou com um parente. Mas por que não buscar uma escuta qualificada através de um profissional? É preciso promover a cultura do cuidado com a saúde mental”, ressalta.

Como surgiu o Setembro Amarelo?

Com Michael Emme5, de 17 anos, natural de Westminter Colorado, Estados Unidos. Jovem autodidata, carismático e esforçado , Michael impressionava professores, colegas e familiares. Os sinais passaram despercebidos e todos foram surpreendidos com a tragédia: Na noite de 8 de setembro de 1994, encontraram ele já sem vida dentro do seu carro Mustang 68 amarelo, com o seguinte bilhete “Não se culpem. Amo vocês”

No velório, fitas e cartões com a cor amarela foram distribuídas pelos pais e amigos de mike, com a mensagem:

“Se precisar, peça ajuda.”

Em pouco tempo, mais cartões e fitas amarelas com mensagens assim, começaram a se espelhar pelos Estados Unidos consolidando ação como um movimento nacional pela vida.

Em 2003, a OMS decretou o dia 10 de Setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e o amarelo do Mustang 68 de Mike foi escolhido para ilustrar a causa.

Em 2015, a campanha do Setembro Amarelo foi iniciada no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV)7, no número 188, que oferece atendimento gratuito e seguro em todo o país por telefone, e- mail e chat 24 horas todos os dias.

A Fundação Santa Cabrini oferece acompanhamento psicológico à população privada de liberdade no Estado do Rio de Janeiro, em concordância com a Lei de Execução Penal (n° 7.210/84), que garante o direito à “assistência social” por parte do cidadão em cumprimento de pena. Atendimentos são realizados de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, no Largo do Machado 48, Catete.

Faça a sua parte!

Sabia que pode haver pessoas como Michael Emme a sua volta? Esteja atento aos sinais. Ofereça ajuda e compartilhe os canais do Centro de Valorização da Vida (Disque 188). Participe você também do Setembro Amarelo. Transparência e diálogo salvam vidas!

Vem com a LEP! Entenda os 5 motivos do porquê contratar pessoas em cumprimento de pena é o melhor investimento para sua empresa          

Postado por admin em 27/jun/2022 - Sem Comentários

*Crédito de Imagem: Lua Vieira    

Empreender é mais do que vender um serviço ou produto. Empreender é sobre deixar um legado no mundo, oferecendo algo que mude a vida das pessoas. Assim, imagine se você pudesse transformar a vida de alguém com o seu negócio, contribuir com uma sociedade mais segura e inclusiva, e ainda reduzir ao mesmo tempo os custos pela metade? A Lei de Execução de Penal (7.210/84), mais conhecida como “LEP”, que regulamenta o trabalho prisional, é o investimento ideal para todo empresário que queira conciliar redução de gastos com mais responsabilidade social para o seu empreendimento. Confira abaixo cinco motivos que tornam a LEP a melhor opção para sua empresa:

Redução de aproximadamente 50% dos custos

Empregar uma pessoa em cumprimento de pena é apoiar a sua superação e  reintegração ao convívio social. Em vista disto, a contratação de apenados pela LEP é isenta de encargos sociais e trabalhistas, o que reduz por volta de 50% os custos contratuais em relação ao regime tradicional da Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT). Para o Presidente da Fundação Santa Cabrini, José de Sousa e Silva, a contratação pela LEP é uma ótima oportunidade para conciliar contenção de gastos e aumento da responsabilidade social:

“O desafio de ressocializar o apenado exige a participação de toda a sociedade, sendo o papel da iniciativa privada fundamental nesse processo. Sem uma nova chance profissional no mercado de trabalho, como a pessoa em cumprimento irá se reintegrar na sociedade? Pensando nisto, a nossa legislação de execução penal oferece isenção de encargos sociais e trabalhistas às empresas contratantes, que além de desfrutarem de uma mão de obra treinada e qualificada pela FSC, também obtêm uma redução significativa de gastos tributários. É um estímulo para que mais empreendedores conheçam e apoiem o trabalho prisional na sociedade”, explica.

Contratação segura e desburocratizada 

Visando a satisfação dos contratantes com o trabalho prisional, a Fundação Santa Cabrini realiza um trabalho minucioso de seleção e treinamento de cada apenado empregado. O setor de empregabilidade da FSC, que intermedia a relação entre a pessoa sob pena privativa de liberdade e o contratante, coordena visitas, monitorias e inspecções periódicas reguladas nos locais de trabalho, a fim de monitorar e reforçar o bom desempenho profissional por parte dos colaboradores em comprimento de pena. Além disso, cabe ressaltar que no modelo da LEP, não há aviso prévio nem vínculo empregatício. Assim, a contratação resguarda os interesses do contratante, tendo em vista que em caso de alguma postura não satisfatória por parte do apenado, a sua substituição por outro que esteja apto às atividades poderá ocorrer de forma imediata e sem complicações. Ademais, dependendo da contratação, a legislação também prevê a possibilidade de aquisição dos produtos e serviços do trabalho prisional, sem a necessidade de licitação. 

Mão de obra qualificada que atende às suas expectativas profissionais

A FSC trabalha diariamente para entregar profissionais competentes e qualificados ao mercado de trabalho. Para isso, antes de ser encaminhado às vagas de emprego, todo apenado passa por oficinas de capacitação e treinamento profissional. Há uma triagem que prepara e seleciona as pessoas sob penas privativas de liberdade para as vagas, levando em consideração os requisitos e preferências do contratante.

Outrossim, em virtude da Portaria n° 402, publicada em Diário Oficial (31/01), a FSC possibilita a contratação por diferentes remunerações ou níveis de gerenciamento (que vão de zero a oito no total), tendo em vista o grau de qualificação e competência esperado pela empresa. Em outras palavras: é possível garantir a excelência e produtividade da sua empresa, e ao mesmo tempo, contribuir com a ressocialização na sociedade.

Transformação de vidas e contenção da reincidência criminal

Reintegrar o apenado é prevenir que o mesmo retorne à ilicitude e à conduta infratora da ordem pública. A reincidência criminal é um dilema que compromete a segurança da sociedade fluminense, que já apresenta a terceira maior população penitenciária do país, com quase 52 mil pessoas em cumprimento de pena, segundo o último censo do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Diante disso, o acesso ao mercado de trabalho é fundamental para que essas pessoas sejam de fato ressocializadas e reintegradas ao seio social. Assim, contratar pessoas em cumprimento de pena pela LEP, além de trazer benefícios econômicos pela isenção de encargos sociais e trabalhistas, também amplia irrefutavelmente a responsabilidade e impacto social da empresa contratante. A parceria com a FSC na contratação de apenados permite que a empresa assuma um legado extraordinário na construção de uma sociedade mais inclusiva e segura para todos.

Redução do encarceramento e dos gastos públicos com unidades penitenciárias

Segundo o último censo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil apresenta atualmente a maior população carcerária já registrada em sua história: Com 919.651 presos, o país tem a terceira maior população prisional do mundo, estando atrás apenas dos Estados Unidos e China. Se a sociedade como um todo não se unir na promoção de políticas e ações voltadas à ressocialização deste público, o quantitativo de encarcerados irá aumentar, agravando, por conseguinte, também os gastos para manter o sistema penitenciário, que já preocupa gestores públicos em todo o país. Ademais, o custo de não ressocializar é muito alto: mais violência e criminalidade.

Desse modo,  é preciso prevenir para economizar, reintegrar para não reincidir. A contratação pela Lei de Execução Penal é um investimento triplo, que beneficia todos os envolvidos: o apenado, que passa a ter a chance de retomar a sua vida profissional com dignidade e qualificação; a empresa contratante, que será isenta de encargos sociais e trabalhistas, e por isso, terá uma redução de custos contratuais quase pela metade, e à própria sociedade em geral, favorecida com mais inclusão, segurança e menos violência a longo prazo.

VEM COM A LEP!

Não perca mais tempo! Deixe o seu legado no mundo! Seja parceiro da Fundação Santa Cabrini e tenha os benefícios da Lei de Execução Penal (7.210/84) para sua empresa. Para mais informações, entre em contato com o nosso setor comercial, pelos números, (21) 2334-4141 ou 2334-3948, ou pelo e-mail comercial@santacabrini.rj.gov.br

Fundação Santa Cabrini treina e emprega população em cumprimento de pena ao Mercado de Trabalho

Postado por admin em 13/jun/2022 - Sem Comentários

Fundação Santa Cabrini treina e emprega população em cumprimento de pena

Nesta segunda-feira (13), mais seis pessoas em cumprimento de pena foram capacitadas e empregadas pela Fundação Santa Cabrini. Desde da última sexta-feira (10), o grupo tem passado por uma série de oficinas de capacitação profissional, a fim de prepará-los para os desafios do mercado de trabalho.

A Fundação Santa Cabrini, no âmbito de sua Diretoria de Produção e Comercialização, oferece atendimento social e qualificação profissional à população apenada atendida. O objetivo, segundo a Diretora do setor, Cláudia Edna, é potencializar as oportunidades de reingresso ao mercado de trabalho por parte dos apenados, assim como conceder as ferramentas necessárias para uma vida saudável em sociedade:

“A experiência prisional em si, aliada ao contexto de violência e marginalidade em que muitos estão inseridos desde a pré-adolescência, pode gerar entraves que dificultam a reinserção social da população em cumprimento de pena. Diante disso, antes de encaminharmos a pessoa apenada às vagas de trabalho, oferecemos ao grupo acompanhamento psicossocial e treinamentos profissionais, com o intuito de auxiliá-lo a desconstruir o passado e as vivências ilícitas em prol de uma nova vida com saúde, bem-estar emocional, qualificação e dignidade.” explicou.

Nesse contexto, os apenados participaram nesta segunda-feira (13) de treinamentos para Assistente de Serviços Gerais e Assistente Administrativos, conduzidos pelo setor de qualificação da FSC. Para o Irapuan Oliveiras, 31 anos, preso em 2015 por tentativa de roubo, a oportunidade está sendo o divisor de águas em sua vida:

“Tanto as drogas quanto o crime são um círculo vicioso muito difícil de quebrar. Mas não é impossível, e eu sou prova disso. Depois de quase uma vida inteira no erro, estou decidido a recomeçar. Agradeço a Fundação Santa Cabrini por acreditar em mim.” afirma Irapuan, que além das oficinas, também recebeu sua carta de emprego.

Fundação Santa Cabrini: Desde 1977, transformando vidas em cumprimento de pena por meio do trabalho e da qualificação profissional.

Crédito de imagem: Lua Vieira

Replantando Vida alia conservação ambiental com ressocialização da população apenada

Postado por admin em 06/jun/2022 - Sem Comentários

Crédito de imagem: Cedae

Em celebração a semana do Meio Ambiente, convidamos a todos a conhecer o Programa Replantando, parceria entre a Fundação Santa Cabrini e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) , que além de devolver a dignidade de pessoas em cumprimento de pena, promove a conservação ambiental da Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro. 

O Replantando Vida é o maior empregador de mão de obra prisional do país, o projeto já contribuiu com a reinserção social de mais de 6 mil apenados nos últimos 20 anos , minimizando os custos do sistema prisional e beneficiando toda a população. 

Convém ressaltar que além do seu papel ressocializante, o Replantando Vidas também tem o compromisso de frear a degradação ambiental sofrida pelos corpos hídricos, recrudescendo os esforços na recuperação das matas ciliares, nascentes, zonas de recarga e bacias hidrográficas do estado do Rio de Janeiro. Para atendimento das ações ambientais do programa, existem sete viveiros florestais estruturados, onde se cultiva mais de 254 espécies florestais nativas da Mata Atlântica (estando 40 ameaçadas de extinção)  e se produz mais de 1,8 milhões de mudas por ano. 

As atividades ambientais desenvolvidas no Curso de Formação de Agentes de Reflorestamento contemplam diversas áreas de atuação, como a coleta de sementes florestais, produção de mudas, jardinagem, limpeza e conservação predial; serviços administrativos, confecções de uniformes, práticas de restauração e até atividades de educação ambiental em escolas, e entre outras. Dessa maneira, o Replantando Vidas contribui significativamente com a capacitação profissional  dos apenados, visto que possibilita a eles uma ampla experiência técnica e teórica para que possam ingressar futuramente em variados nichos do ramo ambiental.

Crédito de imagem: Cedae

Assinada ano passado, nova parceria firmada entre a FSC e a Cedae no âmbito do Replantando Vida promete plantar um milhão de árvores ao longo do Rio Guando. A previsão é que o projeto empregue mais de mil detentos nos próximos cinco anos.

Por fim, as pessoas em cumprimento de pena que participam do projeto, recebem remuneração pelo serviço prestado (salário mínimo nacional), auxílio para transporte e alimentação, como qualquer outro trabalhador, e ainda o benefício de redução de um dia de pena, a cada três dias trabalhados

“O programa dá uma chance de recomeçar suas vidas e superar o estigma de ex-detentos, uma vez cumprida a pena. – Todos somos semelhantes. Às vezes, erramos, mas temos o direito de corrigir e recomeçar. O projeto Replantando Vida ajuda a acabar com o preconceito que impede que essas pessoas sejam reinseridas na sociedade”

 Alcione Duarte – Idealizador do projeto Replantando

Experiência internacional confirma: o trabalho prisional reduz a reincidência criminal na sociedade

Postado por admin em 03/jun/2022 - Sem Comentários

“O grau de civilidade de uma sociedade pode ser medido pela maneira como ela trata os seus prisioneiros” diz uma frase popular, frequentemente atribuída ao escritor russo Fiódor Dostoiévski. Embora a origem da frase seja incerta, sua veracidade não: todo sistema prisional reflete de fato a consciência ética e moral da sociedade. Enquanto a Noruega e demais nações  escandinavas, investem paulatinamente na reintegração social do apenado pelo trabalho e educação, e recebem em retorno os menores índices de reincidência criminal do mundo; outros países, como os Estados Unidos, seguem na liderança entre as nações com as maiores taxas de encarceramento, reincidência e superlotação de unidades prisionais. Com isso, as questões que a Fundação Santa Cabrini  convida o leitor a fazer são: Qual exemplo queremos seguir no Brasil? Qual experiência internacional e que grau de civilidade iremos reproduzir em nosso sistema penitenciário? Com a terceira maior população prisional do mundo, e com indicadores alarmantes de reincidência, torna-se urgente que a sociedade brasileira reflita sobre a importância do trabalho e da qualificação na ressocialização. 

Noruega

Arquitetura internacionalmente premiada. Quartos individuais, equipados com televisão, frigobar, escrivaninha e banheiro privativo. Estúdio, biblioteca, centro esportivo e diversas áreas de lazer. Sem grades ou cercas elétricas, com direito a vista privilegiada dos bosques locais. O complexo de Halden, localizado no condado de Østfold, sudoeste da Noruega, é facilmente confundido com um hotel de luxo. Porém, é na verdade a prisão do país de segurança máxima, destinada aos detentos mais perigosos, como assassinos, estupradores e traficantes de drogas. “Se você só está trancado numa cela e sem oportunidades para crescer, é impossível se tornar um bom cidadão” afirma o jovem Jon Fredrik, interno de Halden e sentenciado a cumprir 15 anos de pena por assassinato. “Aqui não encontrei um castigo, mas sim uma chance para equilibrar minha mente, evoluir, aprender e me qualificar” alega Fredrik, que terminou o segundo grau e se formou em Design Gráfico durante sua estadia no presídio Halden, como relata em sua entrevista ao BBC 1

Complexo de Halden, Noruega. Fonte: Europris

No início da década de 90, quando o índice de reincidência criminal da Noruega  era aproximadamente de 70% (como é atualmente no Brasil), o Serviço Penitenciário Norueguês passou por uma série de reformas, que aboliram o viés punitivista das unidades carcerárias, e tornaram o sistema prisional  voltado para reinserção dos detentos através do trabalho e da qualificação profissional 2. Segundo dados do Institute for Criminal Policy Research, as mudanças resultaram em impactos expressivos: hoje, a Noruega ostenta a menor taxa de recidivismo no mundo, a saber, de apenas 20%, bem menor que a própria média europeia de 55% 3.  Além disso, tanto a Noruega quanto seus países circunvizinhos, como Suécia, Holanda e Dinamarca, apresentam as menores taxas de encarceramento no planeta (70, 66 e 72 presos por 100 mil habitantes respectivamente), como indica as informações da World Prison Brief, base de dados da International Centre for Prison Studies. 4

Em três décadas, a Noruega reformulou o seu sistema penitenciário, posicionando como objetivo basilar de sua doutrina penal a reinserção, o resgate do indivíduo encarcerado ao convívio social e ao exercício de cidadania, ao invés do mero isolamento prisional como punição e castigo. Para cumprir a sua pena, o apenado é obrigado a comprovar progressos educacionais, laborais e interpessoais, caso contrário, a pena é prorrogada por mais 5 anos, até que a sua reintegração social seja devidamente testificada 5. Como resultado dessa abordagem humanizada e ressocializadora, o país se tornou referência mundial de inclusão, segurança e políticas penitenciárias. 

Por outro lado, pode-se argumentar que é incoerente comparar o Brasil ao modelo de gestão prisional da Noruega e países escandinavos afins, que ocupam o topo do índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Afinal, enquanto que menos de quatro e dez mil pessoas estão em cumprimento de pena na Noruega e Holanda respectivamente, o Brasil apresenta a quarta maior população prisional do mundo, com mais de 800 mil presos, como mostram os dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Dessa forma, em um cenário de quase um milhão de apenados, torna-se inconcebível construir e sustentar uma unidade prisional como o complexo de Halden, designada a atender no máximo 252 pessoas. 

No entanto, embora a estrutura da prisão de Halden esteja distante da nossa realidade penitenciária atual, é possível, sim, espelhar-se nas práticas e ideais que nortearam os três últimos decênios da política penitenciária da Noruega, investindo na ocupação laborativa, acadêmica e qualificativa da população apenada do Brasil, como defende a Fundação Santa Cabrini há quase 45 anos. Além disso, os Estados Unidos, que possuem uma superlotação carcerária e um sistema penitenciário em geral mais similar ao brasileiro, também demonstram vários casos regionais da efetividade do trabalho e da qualificação profissional como instrumentos de ressocialização.  

Estados Unidos

Hoje, uma em cada quatro pessoas sob pena privativa de liberdade no mundo, encontra-se nos Estados Unidos. Com mais de dois milhões de encarcerados, os EUA têm a maior população penitenciária do planeta, além da segunda maior taxa global de aprisionamento (730 por 100 mil habitantes), como indica o último levantamento da World Prison Brief.  Nessa perspectiva, os Estados Unidos também apresentam uma taxa elevada de reincidência criminal, de 60%, ou seja, em cada dez pessoas que deixam os presídios norte-americanos, seis retornam à conduta ilícita 6.  

Diante desse cenário alarmante, vários estados norte-americanos passaram a adotar o trabalho prisional e a profissionalização como meios de reinserção social da população encarcerada, como nas unidades prisionais de Ohio e Minnesota, estados do centro-oeste dos EUA .  Um estudo conduzido por Makarios et al (2010), baseado em dois mil pessoas que cumpriram pena em presídios de Ohio, destacou a eficácia que o desenvolvimento acadêmico, profissional e laborativo desempenha na reintegração social de detentos. De acordo com os dados levantados, os indivíduos encarcerados que participaram de programas de qualificação e trabalho remunerado, tiveram melhores oportunidades de ingresso ao mercado de trabalho após o cumprimento de pena, e índices bem menores de reincidência à ilicitude em comparação aos detentos que não adentraram aos programas de formação profissional e empregabilidade 7

Detentos trabalhando numa plantação de batatas no Instituto Penal in Lancaster, Ohio, Agosto 4 2009. Fonte: Kiichiro Sato / Associated Press
Detentos trabalhando numa plantação de batatas no Instituto Penal in Lancaster, Ohio, Agosto 4 2009. Fonte: Kiichiro Sato / Associated Press

No estado de Minnesota, ações de profissionalização e trabalho com o público apenado ocorrem desde 1967 nos chamados “work release programs”, conduzidos pelo Minnesota Department of Corrections, em que os detentos se qualificam e trabalham ao longo do dia e retornam aos presídios à noite. Estudos recentes, como o dirigido por Duwe e McNeeley (2018),   demonstram que mais de 80% dos participantes terminam a pena devidamente qualificados e com rápida absorção ao mercado de trabalho 8.

Para que serve a pena privativa de liberdade?

Por fim, muitos outros exemplos internacionais poderiam ser citados a fim de confirmar a importância do trabalho e da qualificação no processo de ressocialização da população encarcerada. O estado do Rio de Janeiro apresenta mais de 52 mil pessoas em cumprimento de pena, de acordo com o censo de abril deste ano do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Tribunal de Justiça do RJ. Diante disso, é urgente que a sociedade fluminense reflita sobre a reintegração social da população prisional, a saber, a terceira maior do país. Qual exemplo internacional iremos seguir e reproduzir em nosso sistema prisional? Como iremos reduzir a reincidência criminal? Para que serve a pena privativa de liberdade? Para meramente excluir, isolar e punir, ou resgatar e reintegrar o detento ao seio da sociedade através do trabalho e da qualificação?  Para saber as respostas que a sociedade brasileira dará para esses questionamentos, é preciso voltar à frase de Dostoiévski mencionada no início do texto, e indagar uma outra pergunta ainda mais profunda: “Qual é o grau da nossa civilidade?” A forma como a sociedade trata a sua população prisional, excluindo ou reintegrando, é um reflexo da sua própria consciência ética e moral. 

Papel da FSC

Seguindo a Lei de Execuções Penais (7.210/84), assim como os exemplos da experiência internacional, a Fundação Santa Cabrini oferece acolhimento psicossocial, qualificação e empregabilidade à população em cumprimento de pena no estado do Rio de Janeiro, visando a construção de uma sociedade fluminense mais segura e inclusiva para todos.

1 Fredrik, Jon. How Norway turns criminals into good neighbours. [Entrevista concedida a] Emma Jane Kirby. BBC, London, 7 July 2019 (https://www.bbc.com/news/stories-48885846)

Eikeland, O. J., Manger, T., & Asbjørnsen, A. E. (2016). Norske innsette: Utdanning, arbeid, ønske og planar. [Norwegian prisoners, work, wishes and plans]. Bergen: Fylkesmannen i Hordaland

3 Davis, L. M., Bozick, R., Steele, J. L., Saunders, J., & Miles, J. N. V. (2013). Evaluating the effectiveness of correctional education: a meta-analysis of programs that provide education to incarcerated adults. Santa Monica: RAND Corporation.

4 World Prison Brief, Institute for Crime & Justice Policy Research (https://www.prisonstudies.org/map/europe)

5 Denny, Meagan (2016) “Norway’s Prison System: Investigating Recidivism and Reintegration,” Bridges: A Journal of Student Research: Vol. 10 : Iss. 10 , Article 2.

6 Davis, L. M., Bozick, R., Steele, J. L., Saunders, J., & Miles, J. N. V. (2013). Evaluating the effectiveness of correctional education: a meta-analysis of programs that provide education to incarcerated adults. Santa Monica: RAND Corporation.

7 Makarios, M., Steiner, B., & Travis, L. F. (2010). Examining the predictors of recidivism among men and women released from prison in Ohio. Criminal Justice and Behaviour, 37(12), 1377–1391

8 Duwe, G. & McNeeley, S. (2018). The Effects of Prison Labor on Institutional Misconduct, Post-Prison Employment, and Recidivism. Corrections: Policy, Practice and Research.